Desde os tempos mais remotos até à atualidade temos vindo a
deparar-nos com uma desigualdade entre os géneros feminino e masculino.
Primeiramente,
é necessário referir que o homem e a sua atividade estão condicionados
intrínseca e extrinsecamente. Assim, é impossível esperar a ilustração de
qualquer tipo de comportamento humano, sem que antes este se situe num determinado
contexto sociocultural.
É crucial diferenciar os conceitos
de género e sexo. O primeiro, é uma construção social, enquanto que o segundo é
determinado biologicamente.
A razão pela qual se assistiu e se
continua a assistir a estas desigualdades é devido ao facto da sociedade
transformar as diferenças biológicas entre sexos em contrastes do nível social,
estruturando a esfera social sobre uma assimetria entre relações.
Na mitologia, Prometeu é o criador
e protetor dos homens, enquanto Pandora representa o castigo imposto por Zeus,
o mal na forma feminina. Zeus criou a mulher como uma maldição para os homens,
estabelecendo o equilíbrio entre o bem e o mal, conforme a crença do mundo
antigo. Na prática, a punição dá-se em função da obrigação pelo trabalho, uma
vez que os homens foram condenados a trabalhar para sustentar as mulheres, que
além de não trabalharem, consomem parte da renda do seu trabalho. Talvez por
isso se tenha cristalizado historicamente a ideia de que o trabalho é algo
intrinsecamente destinado aos homens.
Na tradição judaico-cristã, o texto
do “livro do Gênesis” também traz uma representação sobre a relação entre o
masculino e o feminino. Primeiramente, é interessante observar que há duas
versões distintas sobre a criação dos seres humanos. Na primeira versão, “História
da Criação”, aparece o relato de que Deus criou o homem à sua imagem e
semelhança e criou-os, macho e fêmea. Nesta primeira narrativa Deus cria o
homem e a mulher ao mesmo tempo e não estabelece nenhuma hierarquia entre os
sexos, embora os autorize a sujeitar e dominar a terra e os animais. A primeira
hierarquia de género aparece na narrativa de “O Homem no Paraíso”; é nesta
segunda versão que aparecem os personagens Adão e Eva, sendo esta criada por
meio da costela de Adão. Aqui os papéis já estão bem definidos: “não é bom que o
homem esteja só; façamos-lhe uma ajudante semelhante a ele”.
Em “A República”, o filósofo grego
Platão idealiza os papéis de género numa perspetiva muito mais igualitária do
que a que predominava no senso comum e no pensamento geral da sua época
(Clássica). Platão acredita numa diferença “natural” entre homens e mulheres;
acredita que as mulheres são naturalmente mais fracas a nível físico que os
homens.
Entretanto, os dois sexos diferem por natureza em alguns
aspetos, mas não em tudo. Em “A República”, as mulheres deveriam ser educadas
para exercerem as mesmas funções dos homens, inclusive nos ensinamentos da
música, da ginástica e na arte da guerra. Platão reitera que, de um modo geral,
os homens superam as mulheres em quase todas as atividades humanas, mas também
reconhece que elas são superiores noutras funções. Além disso, afirma que na
administração da cidade ideal não existe nenhuma função exclusiva do homem ou
da mulher, mas de ambos.
Ao contrário
de Platão, Aristóteles, seu ex-discípulo, produziu uma interpretação que
fortalece a naturalização da desigualdade de género. Aristóteles reconhece um
estado “natural” de dependência entre o homem e a mulher, pois a espécie humana
tanto quanto as demais espécies têm um impulso instintivo para continuar a
existência e propagar-se. Entretanto, este também acredita numa divisão
“natural” pré-definida de papéis sociais. Aquele que nasce com a habilidade
para prever as coisas, ou seja, aquele que nasce com o “dom” da inteligência, é
senhor e mestre por natureza; os que nascem apenas com a força do corpo para
executar as atividades, são escravos por natureza. Neste sentido, a mulher
poderia ser considerada “naturalmente” uma escrava.
Para os filósofos Iluministas, o
discurso sobre os sexos é pacífico relativamente à ideia de que as mulheres ou
não têm razão ou têm uma razão inferior. Assim da “inferioridade sexual e
intelectual da mulher, do seu papel natural na reprodução da espécie e no
cuidado dos filhos decorre naturalmente uma definição de função e de papel (...)
a mulher é essencialmente esposa e mãe”. A cidadania das mulheres vem-lhes do
facto de serem esposas de cidadãos, o que representa dizer que a cidadania
feminina - reduzida à esfera privada - está excluída de qualquer realidade
política.
O início da primeira vaga do
feminismo é normalmente apontado para o meio do século XIX. Podem considerar-se
como principais causas (históricas, políticas e sociais) desencadeadoras do
feminismo, a revolução Industrial, num primeiro momento, e as duas grandes
guerras num segundo momento. Estas exigiam o direito ao voto e igualdade em
relação aos homens.
Quando se fala da segunda vaga
fala-se da época que se situa por volta dos anos 60 e que se prolonga mais ou
menos até meados dos anos 80. Este período histórico de mais ou menos duas
décadas representou uma época de grande atividade e inovação. Alguns dos mais
importantes fatores para o desenvolvimento feminino foram: a explosão económica
no pós-guerra; as forças que nasceram e cresceram no interior do movimento
estudantil do fim dos anos 60 e um conjunto de inovações tecnológicas e
científicas.
A ciência sustenta, mantém e
alimenta as relações sociais prevalecentes onde o conceito de género está
subjacente, sendo compreendido através de lentes categoriais e dualismos. O
potencial do empirismo é, por isso, limitado devido à natureza genderizada dos
seus conceitos e a uma visão do mundo sustentada por dualidades relacionadas
com o género.
Nos dias de hoje, estes desníveis
são bem menos acentuados, contudo continuam a existir. É necessário uma mudança
nas políticas e mentalidades de algumas civilizações de maneira a reduzir este
problema a zeros. Todos têm os mesmos direitos e as mulheres não são exceção.
Não deve ser desrespeitado o que é
diferente, devemos apelar à diversidade e entrar numa dinâmica de relativismo
cultural, mas sem nunca ultrapassar os direitos do Homem e os limites éticos.
Devemos seguir os passos e ideais de Claude Lévi-Strauss e respeitar tudo e
todos como membros do nosso espaço social no qual nós nos inserimos, fabricando
uma enorme sucessão de fenómenos culturais evolutivos.
Miguel
Gouveia nº23 10ºC
2014/2015
Sem comentários:
Enviar um comentário