sexta-feira, 13 de março de 2015

Igualdade de Género (texto do aluno Miguel Gouveia)


Desde os tempos mais remotos até à atualidade temos vindo a deparar-nos com uma desigualdade entre os géneros feminino e masculino.
            Primeiramente, é necessário referir que o homem e a sua atividade estão condicionados intrínseca e extrinsecamente. Assim, é impossível esperar a ilustração de qualquer tipo de comportamento humano, sem que antes este se situe num determinado contexto sociocultural.
É crucial diferenciar os conceitos de género e sexo. O primeiro, é uma construção social, enquanto que o segundo é determinado biologicamente.
A razão pela qual se assistiu e se continua a assistir a estas desigualdades é devido ao facto da sociedade transformar as diferenças biológicas entre sexos em contrastes do nível social, estruturando a esfera social sobre uma assimetria entre relações.
Na mitologia, Prometeu é o criador e protetor dos homens, enquanto Pandora representa o castigo imposto por Zeus, o mal na forma feminina. Zeus criou a mulher como uma maldição para os homens, estabelecendo o equilíbrio entre o bem e o mal, conforme a crença do mundo antigo. Na prática, a punição dá-se em função da obrigação pelo trabalho, uma vez que os homens foram condenados a trabalhar para sustentar as mulheres, que além de não trabalharem, consomem parte da renda do seu trabalho. Talvez por isso se tenha cristalizado historicamente a ideia de que o trabalho é algo intrinsecamente destinado aos homens.
Na tradição judaico-cristã, o texto do “livro do Gênesis” também traz uma representação sobre a relação entre o masculino e o feminino. Primeiramente, é interessante observar que há duas versões distintas sobre a criação dos seres humanos. Na primeira versão, “História da Criação”, aparece o relato de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e criou-os, macho e fêmea. Nesta primeira narrativa Deus cria o homem e a mulher ao mesmo tempo e não estabelece nenhuma hierarquia entre os sexos, embora os autorize a sujeitar e dominar a terra e os animais. A primeira hierarquia de género aparece na narrativa de “O Homem no Paraíso”; é nesta segunda versão que aparecem os personagens Adão e Eva, sendo esta criada por meio da costela de Adão. Aqui os papéis já estão bem definidos: “não é bom que o homem esteja só; façamos-lhe uma ajudante semelhante a ele”.
Em “A República”, o filósofo grego Platão idealiza os papéis de género numa perspetiva muito mais igualitária do que a que predominava no senso comum e no pensamento geral da sua época (Clássica). Platão acredita numa diferença “natural” entre homens e mulheres; acredita que as mulheres são naturalmente mais fracas a nível físico que os homens.
Entretanto, os dois sexos diferem por natureza em alguns aspetos, mas não em tudo. Em “A República”, as mulheres deveriam ser educadas para exercerem as mesmas funções dos homens, inclusive nos ensinamentos da música, da ginástica e na arte da guerra. Platão reitera que, de um modo geral, os homens superam as mulheres em quase todas as atividades humanas, mas também reconhece que elas são superiores noutras funções. Além disso, afirma que na administração da cidade ideal não existe nenhuma função exclusiva do homem ou da mulher, mas de ambos.

            Ao contrário de Platão, Aristóteles, seu ex-discípulo, produziu uma interpretação que fortalece a naturalização da desigualdade de género. Aristóteles reconhece um estado “natural” de dependência entre o homem e a mulher, pois a espécie humana tanto quanto as demais espécies têm um impulso instintivo para continuar a existência e propagar-se. Entretanto, este também acredita numa divisão “natural” pré-definida de papéis sociais. Aquele que nasce com a habilidade para prever as coisas, ou seja, aquele que nasce com o “dom” da inteligência, é senhor e mestre por natureza; os que nascem apenas com a força do corpo para executar as atividades, são escravos por natureza. Neste sentido, a mulher poderia ser considerada “naturalmente” uma escrava.
Para os filósofos Iluministas, o discurso sobre os sexos é pacífico relativamente à ideia de que as mulheres ou não têm razão ou têm uma razão inferior. Assim da “inferioridade sexual e intelectual da mulher, do seu papel natural na reprodução da espécie e no cuidado dos filhos decorre naturalmente uma definição de função e de papel (...) a mulher é essencialmente esposa e mãe”. A cidadania das mulheres vem-lhes do facto de serem esposas de cidadãos, o que representa dizer que a cidadania feminina - reduzida à esfera privada - está excluída de qualquer realidade política.
O início da primeira vaga do feminismo é normalmente apontado para o meio do século XIX. Podem considerar-se como principais causas (históricas, políticas e sociais) desencadeadoras do feminismo, a revolução Industrial, num primeiro momento, e as duas grandes guerras num segundo momento. Estas exigiam o direito ao voto e igualdade em relação aos homens.
Quando se fala da segunda vaga fala-se da época que se situa por volta dos anos 60 e que se prolonga mais ou menos até meados dos anos 80. Este período histórico de mais ou menos duas décadas representou uma época de grande atividade e inovação. Alguns dos mais importantes fatores para o desenvolvimento feminino foram: a explosão económica no pós-guerra; as forças que nasceram e cresceram no interior do movimento estudantil do fim dos anos 60 e um conjunto de inovações tecnológicas e científicas.
A ciência sustenta, mantém e alimenta as relações sociais prevalecentes onde o conceito de género está subjacente, sendo compreendido através de lentes categoriais e dualismos. O potencial do empirismo é, por isso, limitado devido à natureza genderizada dos seus conceitos e a uma visão do mundo sustentada por dualidades relacionadas com o género.
Nos dias de hoje, estes desníveis são bem menos acentuados, contudo continuam a existir. É necessário uma mudança nas políticas e mentalidades de algumas civilizações de maneira a reduzir este problema a zeros. Todos têm os mesmos direitos e as mulheres não são exceção.
Não deve ser desrespeitado o que é diferente, devemos apelar à diversidade e entrar numa dinâmica de relativismo cultural, mas sem nunca ultrapassar os direitos do Homem e os limites éticos. Devemos seguir os passos e ideais de Claude Lévi-Strauss e respeitar tudo e todos como membros do nosso espaço social no qual nós nos inserimos, fabricando uma enorme sucessão de fenómenos culturais evolutivos.
 

Miguel Gouveia nº23 10ºC

2014/2015

 

 

 

 

 

 

 

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